Livro sobre reservas ambientais particulares é lançado em condomínio sustentável de Santa Teresa

Obra dá lição aos que colocam o lucro como prioridade no parcelamento de terrenos rurais para implantação de projetos imobiliários nas montanhas capixabas

9 de junho de 2022
atualizada em 9 de junho de 2022
Auditório da Ecovila ficou cheio no dia do lançamento do livro sobre as Reservas Naturais Particulares. Foto: Carmem Barcelos
Auditório da Ecovila ficou cheio no dia do lançamento do livro sobre as Reservas Naturais Particulares. Foto: Carmem Barcelos

Ontem (8), foi lançado em Santa Teresa, o Livro ‘RPPNs do Espírito Santo'. O lançamento ocorreu na Ecovila Bom Destino, em Aparecidinha, que abriga uma das 10 RPPN (sigla para Reserva Particular do Patrimônio Natural) que existem no município teresense. O evento foi um encontro com a vida e contou com a presença de várias autoridades - dentre elas o prefeito Kléber Médici (PSDB) - que saíram sensibilizados com a relevância de uma Reserva Particular e suas possibilidades.

Do início ao fim os presentes se regozijaram conhecendo outros ambientalistas, aprendizes e respirando a atmosfera de paz, alegria e saúde, que só são possíveis na simplicidade da natureza e na empatia pelos demais seres vivos. Além dos encontros, puderam deleitar suas almas com a beleza exuberante da Mata Atlântica preservada por todos lados. Os participantes ainda tiveram o privilégio de plantarem uma alameda de Ipes amarelos, cada um sua própria muda, com a supervisão do ativista Nilton Broseghini.

RPPN é um tipo de uma unidade de conservação (UC) privada, prevista na legislação, com objetivo da perpetuidade da área permanecer como reserva ambiental na matrícula do imóvel. Sendo assim, o proprietário garante que mesmo depois de sua morte ou venda do imóvel a área da RPPN será conservada com sua diversidade biológica para sempre, mantendo sua intenção original de preservação daquela área ao adquiri-la. A transformação de um trecho da propriedade, ou toda ela em RPPN, não afeta a titularidade do imóvel. O imóvel continua sendo um bem privado que poderá ser vendido, porém com a garantia de não ser devastado.

É gratificante ver que cresce em Santa Teresa o número de proprietários rurais que, voluntariamente, transformam suas terras em RPPN. E o evento de ontem foi prestigiado com a presença de dois jovens RPPNistas representando a nova geração: Marcos e Riccardo Sancio proprietários da RPPN Meu Cantinho.

Com a crescente especulação imobiliária, que de forma irresponsável tem transformado áreas rurais das montanhas capixabas em condomínios urbanizados  , nos traz esperança ver gente consciente indo em direção contrária, escolhendo fazer a coisa certa preservando a biodiversidade e recuperando e transformando trechos degradados em Mata Atlântica.

Com a desculpa esfarrapada de que estão arrancando da propriedade rural apenas eucalipto e café, os degradadores vão conseguindo transformar área rural em urbanas. Chegam como gafanhotos arrancando árvores, expondo o solo de encostas à erosão, revirando com tratores mananciais de águas e comprometendo corredores ecológicos. Fazem de paisagens naturais e rurais lugares estéreis típicos dos condomínios urbanos. Com isso comprometem também plantações e a produção de alimentos nas propriedades, que em Santa Teresa são predominantemente da agricultura familiar.

Esta desculpa de estarem retirando apenas eucaliptos e pés de cafés tem sido repetida até por algumas autoridades e órgãos ambientais. Assim, por omissão ou não, se tornam coniventes com a grande devastação que vem passando por cima de fragmentos florestais e cultivos agrícolas que servem de alguma forma como corredores ecológicos para espécies de animais ameaçadas que se deslocam entre as reservas mais expressivas da Mata Atlântica que ainda resistem na Doce Terra dos Colibris, localidade que onde nasceu e cresceu o patrono nacional da ecologia, o cientista mundialmente renomado Augusto Ruschi.

Casas quadradas, grama esmeralda e poços decorativos de tilápias

Essas áreas que estão sendo devastadas pela ganância imobiliária, mesmo as que tinham cultivo de café e eucalipto, além de protegerem o deslocamento dos bichos, também serviam como canais para infiltração da água da chuva no solo. E ajudavam a compor o PIB agrícola do município.

Agora o que se vê nelas, são extensas áreas de solos expostos. Imagens que lembram a corrido do ouro na Serra Pelada. E à medida que as ocupações vão se consolidando, o que era floresta ou cultivo agrícola dá lugar à grama esmeralda. E também à casas quadradas repletas de vidro e concreto - algumas até mansões - rodeadas de peixeiros decorativos que de nada servem para economia rural e só ajudam a o piorar a qualidade das águas de importantes manancias capixabas que nascem nas montanhas teresenses. 

Por mais que se saiba dos impactos das plantações de monocultura do eucalipto, por exemplo, a presença desse cultivo é menos agressiva ao solo do que a supressão total para construção de condomínios não sustentáveis, conforme pode se verificar em estudo da USP

Preservação da natureza vira sinônimo de geração de renda

Mas, felizmente, há condomínios rurais em Santa Teresa com boas práticas ambientais. Caso dos que criam em seu interior uma RPPN. Assim, ganha a natureza, que continua preservada. Ganham também os proprietários que podem receber incentivos públicos e do mercado de crédito de carbono, por exemplo, além da beleza, saúde e bem estar de se morar perto ou em meio à floresta. Ganha também toda a sociedade.

E há mais bônus. Nas RPPNs são permitidas atividades de pesquisas científicas, exploração de frutos, visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais, conforme previsto no seu plano de manejo.Vem crescendo muito nos últimos anos a vistação em condomínios que tenham RPPN, através de uma prática conhecida como turismo de imersão e experiência. Prática que vem se revelando economicamente viável para os donos das reservas.

É um tipo de turismo que não degrada e não exige do dono da terra grandes investimentos e nem muito trabalho. Assim, esse proprietário (ou proprietários) ajudam a preservar e difundir a cultura do cuidado ambiental, exercendo papel de guardião do futuro da existência da humanidade no planeta Terra. Este tipo de ocupação justifica a saída das pessoas da cidade para virem morar nas montanhas e poderem ter realmente qualidade de vida e não os condomínios irresponsáveis e degradadores que têm sido vendidos em Santa Teresa nos vales mais preciosos que temos.

Se por um lado temos a especulação imobiliária predatória em Santa Teresa (ES), por outro, nos anima muito ver que há pessoas que compram terrenos e não transformam plantações rurais em tudo grama esmeralda e concreto. É o caso dos RPPNistas. Estes não devastam e não destroem nascentes e nem transformam brejos de altitude em peixeiros. Os RPPNistas, como se autodenominam, plantam água e têm responsabilidade ecológica para com a humanidade, a terra onde pisam e constroem.

Prestígio

O evento sobre o livro das RPPN´s na Ecovila Bom Destino reuniu mais de 90 pessoas. E fez parte do cronograma da Editora Bela Vista Cultural, representada por Sérgio Simões e Renan Cirylo. Estes percorreram os seis municípios capixabas com RRPNs para lançamento do livro 'RPPNs do Espírito Santo': Guaçuí, Cachoeiro do Itapemirim, Afonso Claudio, Linhares, Santa Teresa e Domingos Martins. Renan explicou o plano didático do livro que deverá ser utilizado na educação ecológica das escolas. São versões adaptadas paras as diversas faixas etárias e condições especiais dos leitores.

A organização do evento contou com a participação da ACPN (Associação Capixaba do Patrimônio Natural) presidida por Sebastião Alves, assessorado por Walder Jose Marianno. Os dois enriqueceram o conhecimento dos presentes sobre as vantagens das RPPNs e encorajaram que outros possam fazer o mesmo com suas propriedades.

Os anfitriões, representando a RPPN Macaco Barbado, foram Jose Antonio Borges Alvarenga – Presidente da AECOVILA – Associação dos Proprietários da Ecovila Bom Destino, mantenedora daquela RPPN, acompanhados dos coproprietários Walder Jose Marianno, Eudes de Oliveira, Jocarly Spinassé, Arnon Spagnol, Jefferson Elias de Oliveira e Edson Fernandes dos Santos Filho, acompanhado de sua esposa Marialda Ferreira Lacerda Fernandes.

Estiveram presentes várias autoridades e muitos interessados. Dentre eles Antônio Ângelo Zurlo, ativista ambiental e cultural de Santa Teresa. Entre as autoridades, além do já citado prefeito Medici, secretários municipais e outros servidores. 

Também estiveram presente da Vereadora Drª Mel Almery (PSDB); o Secretário Municipal de Educação de Itaguaçu, Leandro Barloesius, acompanhado de uma equipe com 23 pessoas, dentre elas diretoras e professores da rede municipal de educação. 

Participaram ainda representantes das 10 RPPNs de Santa Teresa; o ambientalista Nilton Broseghini; o biólogo Edson Valpassos do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema); Alexandre Iunes da RPPN Sayonara e Pres. Da Comissão de Direito Ambiental da OAB/ES; Os líderes comunitários Naldo Barth e Zu Amaro; O sargento Roela e mais outros 3 integrantes do Batalhão da Polícia Militar Ambiental; Celso Maioli, da ONG Força Verde; e, a presença do jornalismo local.

O evento foi um marco para o desenvolvimento da cultura de manejo responsável e sustentável das terras de Santa Teresa e outros municípios do estado capixaba. Condomínio pode? Pode! Desde que não sejam uma ameaça descontrolada contra o Meio Ambiente e a cultura local. Não podemos permitir que a ambição de poucos destrua a qualidade de vida de milhares de pessoas, comprometa o futuro das próximas gerações e descaracterize a tradição de município como o de Santa Teresa conhecido pela riqueza cultural da imigração italiana, pela sua economia rural e o grandioso legado de Augusto Ruschi, patrono da ecologia brasileira.

imagem de
Carmem Barcellos
Comendadora Augusto Ruschi, técnica em Meio Ambiente, graduada em Administração com habilitação em Marketing, pós-graduanda em Gestão Pública, bancária, eterna aprendiz e artista por vocação
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