Condomíno é exemplo de preservação de água, florestas e animais silvestres em Aparecidinha

Formada por um grupo de amigos há 25 anos, a Ecovila Bom Destino também contribui com a educação de crianças e adolescentes, que ajudam a recuperar a Mata Atlântica em Santa Teresa ES

6 de maio de 2022
atualizada em 6 de maio de 2022
José Antônio (à direita) em frente a lagoa e nascente no interior do condomínio, com a reserva florestal de Mata Atântica ao fundo. Foto: Bruno Lyra - 04/05/22
José Antônio (à direita) em frente a lagoa e nascente no interior do condomínio, com a reserva florestal de Mata Atântica ao fundo. Foto: Bruno Lyra - 04/05/22

Na contramão da degradação ambiental gerada por alguns loteamentos e chacreamentos em áreas rurais de Santa Teresa no EspíritoSanto, um condomínio é exemplo de sustentabilidade: a Ecovila Bom Destino, que possui em seu interior a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Macaco Barbado.

Localizada na região de Aparecidinha, na bacia do rio Santa Maria da Vitória, o condomínio possui 22 proprietários, conta o presidente da Associação dos Proprietários da Ecolvila, José Antônio Borges Alvarenga.

De acordo com José Antônio, só a RPPN preserva quase 3 hectares de mata Atlântica e será ampliada para mais 9 hectares. Tudo começou há 25 anos, em 1997.

A Ecovila é espaço onde reside um grupo de amigos aposentados e com afinidades, que se juntou para fazer inicialmente um sítio de lazer. Mas, depois logo percebemos o potencial ambiental da área e que poderíamos virar produtores de água. E essa ideia surgiu depois de um final de semana aonde faltou água. Perto da nascente havia só eucalipto e café. Então, resolvemos reflorestá-la. Com a ajuda do ambientalista Nilton Broseguini e de estudantes fizemos um trabalho voluntário de produção de mudas da Mata Atlântica. Plantamos aqui 4.927 árvores nativas”, enumera José Antônio.

Ele revela que, recentemente, um vizinho da Ecovila planejava dividir seu terreno em 12 sítios. Quando ficaram sabendo, os moradores da Bom Destino resolveram se juntar e comprar a área para evitar a degradação ambiental. “Nesse novo terreno só vamos permitir a construção de mais duas residências. Parte dele vai integrar a expansão da RPPN e haverá um espaço para oficinas de produção de mudas. Elas servirão para ampliar o reflorestamento e o que sobrar doaremos aos vizinhos e outros parceiros”, frisa.

Depois do reflorestamento as nascentes do condomínio não ficam mais sem água, mesmo nas estiagens mais fortes. E elas alimentam o rio Bonito, afluente da margem esquerda do rio Santa Maria da Vitória, um dos principais fornecedores de água da Grande Vitória, atendendo mais de meio milhão de moradores na capital, Serra, Cariacica e Praia Grande (Fundão).

O condomínio possui também pomar, horta comunitária e pequenos lagos. A pavimentação das vias internas é toda em blocos para permitir a penetração da água da chuva.

Água e esgoto

Segundo José Antônio, o condomínio conta com sistema autônomo de tratamento e distribuição água, com captação feita numa das nascentes protegidas pela floresta da RPPN. O esgoto vai para fossas aprovadas em projeto. Mas José Antônio disse que em breve será implantada mini estação de tratamento de esgoto (ETE), o que ele considera que reduzirá ainda mais o impacto sobre o meio ambiente.

Parcelamento do solo

José Antônio diz, que em função do novo marco legal de parcelamento do solo (lei 13.465/2017), cada proprietário tem pouco mais de um hectare de área, de um total de 23,1 hectares de áreas de uso. Fora isso, há o terreno da RPPN, que inclusive possui sede própria.

Não queremos aumentar muito nosso grupo porque não podemos depender da Cesan para trazer água para cá. Temos que produzir o suficiente para nós e sobrar pra vizinhança, como está acontecendo hoje. Então pra isso não adianta pegar essa área que compramos agora e colocar um monte de gente. Seriam doze residências implantadas ali, compramos e vamos colocar no máximo duas nessa área nova. Isso é para poder garantir mais água”, explica José Antônio.

Caça, educação e proteção dos animais silvestres

Um dos problemas enfrentados é a caça, uma vez que a floresta protegida da RPPN serve de abrigo para os animais silvestres da região, como o próprio macaco barbado, que dá nome à reserva.

De vez em quando a gente ouvia alguns tiros de madrugada na mata. Revolvemos fazer conscientização com os vizinhos. Mas os resultados só vieram depois que passamos a trabalhar com as crianças, os filhos desses vizinhos. Eles conscientizaram os pais que não se deve caçar. Que não se deve botar carne de caça à mesa. Assutados com aquilo, os pais viram que estavam fazendo coisa errada”, observa José Antônio.

O presidente acrescenta, que outra ação proativa para a natureza é a ausência de iluminação nas áreas próximas às matas. Evita-se, inclusive, que focos de luz artificial sejam direcionados para dento da floresta. Tudo para não atrapalhar a dinâmica noturna dos animais.

Vistação para escolas, faculdades e pesquisadores

A Ecovila Bom Destino não é aberta para visitação turística. Mas, sob agendamento, recebe estudantes de escolas de ensino fundamenal, médio e cursos superiores. Também atende pesquisadores e instituições científicas, além dos órgãos de proteção ambiental. Para isso, a instituição interessada deve enviar e-mail para o endereço contato@ecovilabomdestino.com.br.

Esse espaço é uma sala de aula ao ar livre. Já recebemos escolas de Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá e até de Vitória, incluindo trabalhos de reflorestamento. Estamos abertos a grupos de interesse na área ambiental, escolas e instituições de pesquisa. Recebemos todas com muito amor para dividirmos o que estamos aprendendo e ajudarmos a difundir a cultura da preservação ambiental”, salienta José Antônio.

E apesar de ser uma vila formada por amigos aposentados egressos de profissões urbanas, a experiência atrai cada vez mais jovens e crianças.

A juventude gosta muito daqui. Nossos filhos e netos costumam vir com frequência e estão adorando nosso trabalho de preservação do meio ambiente. Tem muitos exemplos que vão servir para o resto da vida deles”, conclui.

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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