Moradores fazem abaixo-assinado contra corte de árvores em Santa Maria de Jetibá

Mobilização surgiu após a ameaça de corte de pau-ferro com mais de 30 anos. Grupo cobra plano de arborização urbana do município para cidade ter mais verde.

24 de outubro de 2022
atualizada em 25 de outubro de 2022
Pau-ferro foi 'decepado' na área urbana de Santa Maria de Jetibá e gerou reações da comunidade local. Foto: Reprodução de vídeo/Divulgação
Pau-ferro foi 'decepado' na área urbana de Santa Maria de Jetibá e gerou reações da comunidade local. Foto: Reprodução de vídeo/Divulgação

A pedido de um comerciante, a Prefeitura de Santa Maria de Jetibá iniciou o corte do pau-ferro gigante existente na área urbana da sede do município. Mas a comunidade reagiu e se mobilizou, através de abaixo assinado, para impedir a derrubada do exemplar – que por equanto foi apenas podado – e também de outras árvores existentes na sede e distritos do município da região serrana, que abriga as nascentes de um dos principais rios que abastecem a Grande Vitória: o Santa Maria da Vitória.

Na última quinta-feira (19) um grupo de moradores e ativistas locais denominado Guardiões em Ação protocolou na Prefeitura local um requerimento contendo abaixo assinado físico com 132 assinaturas e abaixo assinado on line - que até a data já tinha 136 adesões -, solicitando a paralisação do corte do pau-ferro e de outras árvores existentes na sede e principais distritos de Santa Maria de Jetibá. O abaixo-assinado on line segue em aberto e pode ser acessado aqui.

O requerimento pede também que a Prefeitura apresente um um plano de arborização urbana ao Conselho Municipal de Meio Ambiente . Isto para que podas e eventuais cortes ocorram com critério, comunicação à sociedade e dentro dos preceitos estabelecidos pelo Código de Posturas do Município (lei nº 177 de 1991).

Assinam o requerimento os moradores e ativistas santamarienses do Guardiões em Ação Raphael Potratz, Pablo Henrique de Melo, Maria das Graças Galimbert Rudio, Elizabeth Lieven, Josiane Arnholz e Lucinéia Laurett. Os moradores Jorge Magalhães, Valdemar Fleger, Andreia Piscitello, João Vitor Rodrigues Serrano, Rosiane Rassele, Maria Lúcia Giovanelli, Sandra Regina Sandriny de Vargas, Lusineia Tonn Nass e demais integrantes do grupo Guardiões também estão dando suporte.

Uma das integrantes do Guardiões em Ação, Lucinéia Laurett, conta que a mobilização aconteceu de forma rápida. “Fiquei indignada e outras pessoas também quando começaram a cortar o Pau-Ferro, que existe há décadas e é um patrimônio ambiental e paisagístico da cidade. A comunidade sequer foi informada do corte. Então foi feita a mobilização, que conseguiu a adesão de várias pessoas, inclusive de dos vereadores Luciano Silva (PTB) e Selene Jastrow (PSB), que interviram junto ao prefeito”, salienta.

Lucinéia destaca que a mobilização acabou fazendo a Prefeitura desistir do corte, pelo menos por enquanto. Mesmo assim ela teme pela árvore. “Esse Pau-Ferro já foi podado outras vezes, mas nunca tinha sido feito uma poda tão grande da copa. Tenho medo de que a planta não sobreviva. Também queremos evitar que outras árvores possam ser cortadas sem critério, sem um plano de arborização que considere replantios em outros locais. Não dá para uma cidade como Santa Maria ficar sem verde, ainda mais em tempos de mudanças climáticas”, conclui.

Na sua conta numa rede social, Lucineia publicou vídeo e texto questionando a ação da Prefeitura. A públicação contou com apoio de moradores da cidade, que também se manifestaram contra o corte do pau-ferro. Veja.

“Este espécime é raro e era uma das árvores mais impotentes na nossa cidade, caótica em organização e verde. Assim espero que mais se juntem para parar por aí com esse crime estético numa cidade que vai se tornando cada vez mais estéril e sem lugares agradáveis” – Pablo Henrique Melo.

“E quando deparei com eles podando aquela árvore cortou meu coração. O lugar ali por perto nunca mais será o mesmo. Espero que que deixem o restante dela, que seja só mesmo uma poda” – Luiz Rezende.

“Era a árvore mais linda da cidade, me deu uma dor no peito ao vê-la depenada” – Luzia Domingos Fiorot.

Vereadores fazem discurso na Câmara em apoio à causa

No último dia 17, os vereadores Ilimar Vesper (Patriota), Luciano Silva (PTB) e Selene Jastrow (PSB) fizeram pronunciamentos durante sessão da Câmara apoiando a iniciativa dos Guardiões. Eles foram acompanhados pelo presidente da casa, o vereador Eumar Francisco Tom (PP), que também discursou em favor da arborização urbana em Santa Maria. Os dircursos podem ser ouvidos na íntegra neste link com o vídeo da sessão do dia 17. 

A Prefeitura

Em nota enviada à reportagem na tarde da última sexta-feira (21), a Prefeitura de Santa Maria de Jetibá diz que adota critérios técnicos para podas e eventuais cortes de árvores em áreas urbanas do município. Disse também que no caso do pau-ferro, a planta não é adequada para o local em que foi plantada. No entanto optou pela poda tal como foi feita por conta da importância paisagística desta árvore na cidade.

A Prefeitura não comentou o pedido do grupo Guardiões em Ação para que apresente um plano de arborização urbana ao Conselho Municipal de Meio Ambiente. Veja a íntegra da nota enviada à reportagem.

Parecer técnico sobre a poda da árvore em frente à loja Motos Cortelleti, na sede do município de Santa Maria de Jetibá

A Secretaria de Meio Ambiente de Santa Maria de Jetibá reconheceu que a árvore, uma Libidibia ferrea (pau-ferro) com idade média de 35 anos, alcançou a função de beleza cênica para os munícipes, distinguindo-se dos demais indivíduos da arborização pelo seu grande porte em altura, diâmetro de tronco e por sua copa exuberante, alcançando por essas qualidades a função de beleza cênica.

Não obstante ao acima constatado, observamos que, historicamente, a arborização planejada da Avenida Frederico Grulke foi realizada com a escolha adequada da espécie, por Licania tomentosa (oiti), no entanto, na ocasião de sua implantação, o pau-ferro, por sua beleza, foi mantido em detrimento da sequência de oitis em implantação. A Libidibia ferrea (pau-ferro) é uma espécie que não seria recomendada para compor um plano de arborização para a avenida, devido ao grande porte em altura, diâmetros de tronco e de copa que a espécie pode alcançar. Portanto, o pau-ferro em questão não fez parte de um processo planejado de arborização de longo prazo, não tendo sido levado em consideração o espaço que a árvore viria a ocupar e quanto aos conflitos com outros itens urbanos que o indivíduo poderia oferecer.

O pau-ferro sofreu diversas avaliações técnicas aos longo dos anos com o intuito de avaliar sua fitossanidade e quanto a potenciais riscos que esta árvore poderia oferecer ao entorno, sendo assim, a secretaria constatou que:

- O pau-ferro apresentou seca severa de ramos com a senescência de porções de sua copa, o que implicou em intervenção de supressão dessas porções.

- Ocorreu a necessidade de restringir os ramos da árvore que se pronunciavam em direção ao terreno particular e que impediam a sua plena ocupação por edificações.

- O desenvolvimento da árvore acarretou no soerguimento do calçamento do passeio, provocado pelo afloramento de raízes superficiais.

- O solo ao entorno da árvore vem sofrendo impermeabilização ao longo dos anos, através do asfaltamento da via pública e mais recentemente pela ocupação do terreno particular no logradouro onde a árvore se encontra. A impermeabilização das superfícies dificulta a infiltração de água e a aeração do solo, o que poderá acarretar na morte de porções de raízes, em especial aquelas mais distantes do eixo central da árvore. A morte de raízes poderá comprometer a saúde geral da árvore, assim como diminuir a sua capacidade de ancoragem na ocasião de ventos fortes, podendo provocar acidentes ou danos por quebra parcial ou total do indivíduo. A impermeabilização do solo tenderá a se agravar pela futura implantação da calçada cidadã em atendimento ao decreto municipal Nº 0733/2018.

- Não é possível aferir a distribuição e a fitossanidade geral das raízes de maneira eficiente, o que não nos permitiu estimar com segurança a razão atual de raízes em relação a sua copa. Um volume e distribuição de raízes inferiores a porção de copa implicaria em maior risco a estabilidade do indivíduo e aumentaria a sua suscetibilidade a queda em cenário de ventos fortes ou acidentes externos que poderão ser infligidos a árvore.

Portanto, é possível concluir que apesar de não ter sido plantada de forma criteriosa na avenida quanto a escolha adequada da espécie para compor a arborização a longo prazo, o pau-ferro veio atendendo a função de beleza cênica da sede municipal e integrando, mesmo que de maneira precária, a arborização pública municipal.

No entanto, devido as transformações ocorridas no entorno dessa árvore ao longo dos anos (a urbanização), onde se destaca o desaprumamento do pau-ferro, a impermeabilização das superfícies de solo, juntamente com a seca severa de ramos com a senescência de porções de sua copa, além de ramos que se pronunciavam em direção ao terreno particular, acarretando em um sobrepeso excessivo na lateral, realizou-se a adequação do individuo arbóreo através de poda, retirando somente o sobrepeso da copa e dos galhos laterais, proporcionalmente na melhor época de poda para a formação de copa.

A retirada de uma árvore da arborização pública é sempre uma decisão criteriosa, avaliada caso a caso, e pautada em entendimento técnico. Dessa maneira, ao longo dos anos, outras árvores de grande porte tiveram que ser suprimidas para a adequação da arborização pública, a título de exemplos, jaqueiras, jambeiros, abacateiros, outros pau-ferros, sibipirunas, etc.

Pode ser observado que em algumas espécies arbóreas foram realizadas poda severa, em um período temporal de aproximadamente vinte (20) meses atrás, poda esta de correção, aparentemente devido à falta de cronologia de poda aplicada à alguns anos antes.

Hoje, a Secretária Municipal de Meio Ambiente, possui uma equipe capacitada, um Gerente de Paisagismo exclusivo para atender a demanda. Desde o início de 2021 obedecemos rigorosamente a cronologia de poda, podendo ser observado não só a ordem cronológica da poda e substituição das árvores que necessitam, através de parecer técnico fundamentado, mas também a preocupação em manter a correta manutenção de todas as áreas verdes públicas, assim como conciliar o bem estar da população com a arborização, proporcionando segurança, conforto e trafegabilidade, principalmente aos transeuntes com necessidades especiais.

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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