Obra ‘às escondidas’ de nova usina de lixo em Santa Lúcia gera reações em Santa Teresa

Segundo moradores e o Instituto da Mata Atlântica, terreno às margens de reserva ecológica também pode receber estação de esgoto. Abaixo assinado pede cancelamento do projeto.

11 de outubro de 2022
atualizada em 24 de outubro de 2022
Vegetação foi derrubada por máquinas da Prefeitura no terreno que fica entre a Reserva Biológica de Santa Lúcia e a Estrada do Imigrante. Foto: Reprodução vídeo/Divulgação
Vegetação foi derrubada por máquinas da Prefeitura no terreno que fica entre a Reserva Biológica de Santa Lúcia e a Estrada do Imigrante. Foto: Reprodução vídeo/Divulgação

Uma usina de triagem de lixo vizinha da Reserva Biológica (Rebio) Santa Lúcia, às margens da Estrada do Imigrante (ES 080) e no coração de uma das rotas turísticas mais famosas das montanhas de Santa Teresa. É o que a Prefeitura local começou a fazer há cerca de duas semanas e sem avisar a comunidade da região, segundo moradores.

Já foram feitas abertura de estrada, terraplanagem e derrubada de vegetação. Intervenções que estão gerando reações na comunidade local, na Câmara de Vereadores e no Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), entidade gestora da Rebio.

“Fomos pegos de surpresa com essa obra da Prefeitura, que disseram ter começado há 15 dias. Não há placa, ninguém foi informado, não fomos chamados para ser ouvidos, não houve audiência pública. Como algo desse porte pode ser feito sem aviso, às margens de uma reserva ecológica e numa rota turística? Não vamos aceitar isso”, critica o dono da Pousada Rancho Lua Bela, Carlos David Toffano, também conhecido como Carioca.

Carlos disse que, junto com outros moradores, irá pedir uma reunião com o Prefeito Kléber Médici (PSDB). “Ali não é um local adequado. Além da reserva, há muitas casas perto e vai espantar o turista. Simplesmente começaram uma passando trator sem avisar ninguém, derrubaram até palmeiras juçara. Se for preciso, vamos protestar paralisando o trânsito na Estrada do Imigrante”, avisa.

Abaixo-assinado do presidente da Câmara de vereadores

No último dia 04 o presidente da Câmara de Vereadores, Vanildo Sancio (PSB), fez discurso no plenário criticando a escolha do local e o que considera falta de comunicação da Prefeitura. Na ocasião Vanildo anunciou que estava fazendo abaixo-assinado contra a instalação da usina naquele local.

Nesta terça-feira (11) o empresário com negócios imobiliários na região de Valsugana Velha, que é próxima à Santa Lúcia, Emerson Sancio, também disse ser contrário a instalação da usina no local. Alegou que ela poderá causar prejuízos ecológicos à Rebio, ao turismo e a qualidade de vida dos moradores vizinhos. E defendeu que a Prefeitura busque outra alternativa.

Situação preocupa Instituto da Mata Atlântica

A instalação da usina também preocupa a direção do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), entidade pública federal sediada em Santa Teresa e responsável pela gestão da Rebio Santa Lúcia, reserva onde está sepultado o cientista e ativista ambiental teresense de renome internacional, Augusto Ruschi.

Foi inclusive nas florestas da Rebio que Ruschi desenvolveu parte importante de seus trabalhos científicos, que podem ser conhecidos no Museu de Biologia Mello Leitão, localizado na sede do INMA.

No último dia 26 de setembro, o INMA enviou ofício ao prefeito Kléber Médici pedindo explicações. No documento, o Instituto diz que ficou sabendo do projeto da usina por “relatos informais”. E que nestes relatos ainda veio mais uma informação: a de que o terreno também poderia receber uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).

Ainda no ofício, o INMA justifica a necessidade de ter conhecimento dos projetos para entender os possíveis impactos ambientais e sociais, uma vez que o entorno da Rebio é área de grande sensibilidade.

Lixão e penicão no caminho do túmulo de Augusto Ruschi”

Dono da Pousada Sítio Siny, Edevaldo Siny, disse que seu irmão e também empresário local do turismo se reuniu na última sexta – feira (07) com o prefeito. “Ele ouviu do prefeito que já está tudo licenciado. No alto do morro será a usina de triagem de lixo e na parte baixa a estação de tratamento de esgoto, que sairá daquele terreno em frente ao conjunto da Aeronáutica e virá para cá. Agora você imagina: futuramente vai ter um lixão e um penicão no caminho de quem for visitar o túmulo de Augusto Ruschi” , frisa Siny.

O empresário reclama que a comunidade não foi ouvida. E disse que o clima é de revolta entre moradores e empreendedores do turismo na região. “Imagina o mau cheiro, urubu voando. O prefeito falou para o meu irmão que isso não vai acontecer, que confia na sua equipe. Mas não é essa a realidade no entorno da usina de Alto Santo Antônio, lá tem muito problema para a comunidade” , acrescenta Siny.

A Prefeitura

A reportagem pediu esclarecimentos à Prefeitura de Santa Teresa, acionando a assessoria de imprensa, a Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria de Obras e Infraestrutura. Mas até o momento desta publicação não obteve retorno. Caso a Prefeitura se posicione, essa publicação será atualizada.

Atualmente a usina de triagem de lixo de Santa Teresa funciona em Alto Santo Antônio, onde também recebe críticas pelos impactos ambientais e sociais que gera na localidade. Inclusive numa publicação feita no início de 2021 no site da Prefeitura, a administração municipal já admitia a necessidade de mudar a usina de local.

 

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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