União declara arquivos de Augusto Ruschi como de interesse público

Pedido feito em 2011 finalmente foi atendido pelo Ministério da Justiça. Mais de 50 mil itens entre estudos, pesquisas, fotos e objetos pessoais do cientista teresense agora estão protegidos por lei.

2 de setembro de 2022
atualizada em
Ruschi com beija flor - animal que virou simbolo de seu trabalho e do município - na varanda de casa em Santa Teresa. Foto: Arquivo/INMA
Ruschi com beija flor - animal que virou simbolo de seu trabalho e do município - na varanda de casa em Santa Teresa. Foto: Arquivo/INMA

Os mais de 50 mil itens distribuídos entre manuscritos, artigos científicos, fotos, ilustrações entre outros materiais do cientista e ambientalista teresense Augusto Ruschi (1915-1986) foram declarados pelo pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) como de interesse público e social.

A Portaria de reconhecimento foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 4 de julho. É o primeiro acervo de um capixaba a receber o status. Na prática a media cria proteção legal ao rico acervo deixado por Ruschi, impedindo que os atuais responsáveis por sua guarda negligenciem o cuidado com o arquivamento ou transfiram os itens e documentos para o exterior. Prevê ainda que caso esses responsáveis não possam mais arquivar de forma adequada, devem transferi-lo ao poder público para que este o faça.

O pedido de reconhecimento foi feito à União em 2011. E partiu do filho e herdeiro intelectual de Augusto Ruschi, o biólogo André Ruschi (1955 – 2016) e do professor do Departamento de Arquivologia da Ufes Taiguara Aldabalde.

Em declaração publicada no site da Ufes em agosto, o professor Taiguara explica a importância do reconhecimento do acervo.

“Foi uma vitória para a ciência e para o nosso estado, pois se trata de acervo de um cientista capixaba reconhecido mundialmente. Augusto Ruschi merece todo o nosso crédito e respeito. Agora, temos que trabalhar para que outros arquivos sejam reconhecidos, principalmente em um país com poucos arquivos e bibliotecas públicas. Vale lembrar que os arquivos e as bibliotecas são registros da nossa história e da nossa cultura, que resgatam e preservam a memória de uma sociedade”. Taiguara Aldabalde – professor de arquivologia da Ufes

Responsabilidade pelo acervo

Segundo publicação do site da Ufes, os mais de 50 mil itens do acervo de Augusto Ruschi se encontram sob a guarda e propriedade da empresa André Ruschi ME. Boa parte desse material está disponível para consulta na Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (Ebmar), que fica em Santa Cruz, litoral de Aracruz. Os responsáveis pelo acervo são os arquivistas formados pela Ufes Rafaela Dalvi e Júlio Marques.

O acervo é composto por documentos produzidos durante toda a vida do cientista. Segundo Aldabalde, são manuscritos, trabalhos científicos, troca de mensagens entre cientistas, livros, revistas, cartas, fotos, materiais iconográficos, fotografias, slides, negativos, ilustrações, CDs, medalhas, premiações, moedas e objetos pessoais.

Legado de um dos capixabas mais importantes da história

Além de prodigioso cientista, Augusto Ruschi trabalhou para a criação de importantes reservas de Mata Atlântica em Santa Teresa, como a de Lombardia (que hoje leva o nome do cientista) e a de Santa Lúcia. Nesta última inclusive enfrentou o governador biônico Élcio Álvares em plena ditadura militar na década de 1970. Álvares queria desmatar a floresta para fins comerciais. As matas de Santa Lúcia abrigaram o trabalho de Ruschi por décadas e ali ele construiu boa parte de seu legado científico. O corpo do cientista está enterrado lá.

Foi graças ao trabalho científico e a seu ativismo que Ruschi colocou uma pequena cidade do interior do ES, Santa Teresa, sob os holofotes da comunidade internacional. Isto porque o cientista se tornou ícone mundial da luta pela preservação ambiental, virou Patrono Nacional da Ecologia, foi uma das primeiras vozes a alertar sobre o caos que o aquecimento global provocaria e também sobre os efeitos nocivos dos agrotóxicos ao meio ambiente e à saúde humana.

Augusto Ruschi trabalhou pela criação de outras reservas ambientais no ES – como o icônico Parque Nacional do Caparaó na divisa com MG, por exemplo. E também noutros estados do Brasil, além de ter inspirado ações semelhantes fora do país. O cientista teve o busto estampado na nota de 500 cruzados novos em 1989, fato que não deixa dúvidas de que Ruschi é um dos capixabas mais importantes da história.

Museu e Instituto Nacional da Mata Atlântica

Criou ainda, em 1949, o Museu de Biologia Professor Mello Leitão em Santa Teresa. Instituição que além de refererência em ciência e educação se tornou atrativo turístico com grande contribuição ao desenvolvimento dessa atividade no município. E não é só. Santa Teresa foi escolhida para sediar o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), intituição que funciona no Mello Leitão.

Atualmente o INMA coordenada, em parceria com outras instituições de pesquisa espalhadas pelo Brasil, estudos e ações de conservação/recuperação do bioma que abrange 17 estados do país e abriga 70% dos 212,6 milhões de brasileiros.

 

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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