Loteamentos rurais degradam entorno do Parque São Lourenço e da cachoeira do Country

Além de ser um dos lugares mais visitados de Santa Teresa é das florestas dali que descem as águas que abastecem o Centro do município.

5 de agosto de 2022
atualizada em 5 de agosto de 2022
Cercas brancas vão dividindo Santa Teresa em pedaços sem respeitar matas e rios. Nesta foto tirada próximo ao Coutry Club o dono das cercas brancas divide a área irregularmente e não respeita APP.
Cercas brancas vão dividindo Santa Teresa em pedaços sem respeitar matas e rios. Nesta foto tirada próximo ao Coutry Club o dono das cercas brancas divide a área irregularmente e não respeita APP.

O Parque Natural Municipal de São Lourenço tem 312 hectares de Mata Atlântica que protegem a famosa cachoeira do Country Club. Pois nem esse patrimônio ambiental escapa da degradação gerada pela proliferação de loteamentos nas áreas rurais em Santa Teresa no Espírito Santo.

Há pelo menos três desses empreendimentos próximos ao território do Parque. Um deles fica ao lado da estrada de acesso à cahoeira. O local foi desmatado recentemente, a área derrubada já está parcelada em chácaras divididas por cercas sustentadas em mourões pintados de branco. E um platô já foi aberto, deixando o solo exposto. Veja vídeo da situação gravado por um proporétário rural vizinho que pediu para não ser identificado. 

Ainda próximo ao loteamento mostrado no vídeo, a reportagem de Convergente verificou outros desmates, aberturas de platôs, represamento de nascentes e parcelamento do solo em chácaras até à beira do córrego que desce da cachoeira do Country. 

Os empreendimentos imobiliários próximos ao Parque São Lourenço seguem o mesmo padrão de projetos semelhantes, que proliferaram nas terras frias de Santa Teresa nos últimos anos: vários platôs abertos próximos uns dos outros, solo completamente exposto após passagem de trator sobre a vegetação e, pelo menos num dos casos, nascente transformada em lagos artificiais sem qualquer proteção verde nas margens, o que favorece erosão do terreno e assoreamento dos recursos hídricos.

É possível ver boa parte dos impactos passando na localidade de Alto São Lourenço pela rodovia que liga à Santa Maria de Jetibá. Um dos loteamentos fica por cima de uma vinícula, onde a terra está exposta inclusive nas margens dos lagos artificiais escavados, onde havia uma nascente. Outro loteamento fica no lado oposto da rodovia, no topo do morro. Lá houve desmate e há muita terra solta. O terceiro lotamento é o mostrado no vídeo.

Licença ambiental e zona de amortecimento

No último dia 21 a reportagem solicitou à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santa Teresa informações sobre os três loteamentos. A saber: se possuem licença ambiental, se as obras executadas estão de acordo com essas licenças, se há contrapartidas e/ou compensações ambientais pelos impactos gerados.

Convergente também questionou se os loteamentos – pelo menos os dois deles que estão mais próximos – se encontram dentro da zona de amortecimento do Parque, que abrange o raio de 1 km do entorno desta unidade de conservação, conforme estabelecido no Plano de Manejo que está publicado no site da própria Prefeitura. Mas, até o momento desta publicação, não obteve resposta da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, órgão que também é responsável pela gestão do Parque São Lourenço. 

Água de abastecimento do centro

A região de Alto São Lourenço é cortada pelo rio que dá nome à localidade. E é deste rio a parte da água captada pela Cesan para abastecer o Centro de Santa Teresa. Portanto, os impactos em Alto São Lorenço tem potencial para atingir a água que chega ao teresense morador do Centro. Água esta que já está sendo afetada pela destruição que vem ocorrendo no Circuito Caravaggio onde, inclusive, nasce o córrego da cachoeira do Country Club, um dos principais formadores do rio São Lourenço.

Basta ir até a cachoeria e a piscina natural para ver como as águas estão mais barrentas. Ou ir até o Caravaggio para constatar a falta de vegetação ao longo das margens do córrego, solo exposto em grandes áreas, poços escavados e muita lama nas lagos artificiais. 

Cidade na mira de operações contra crimes ambientais

Por conta da explosão de loteamentos sem cuidados ambientais na zona rural, Santa Teresa virou alvo de operações da polícia e outros órgãos. A mais recente delas ocorrida na última semana de junho, quando uma força-tarefa flagrou diversos crimes ambientais no Circuito Caravaggio ligados a projetos imobiliários. Dentre eles: desmatamento, represamento indevido de córrego e construções em Área de Preservação Permanente (APP).

Antes disso, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo e Polícia Ambiental já haviam flagrado irregularidades em Valsugana Velha e Santo Anselmo. E em abril, o IDAF informou ao Convergente que em pouco mais de um ano identificou 144 crimes ambientais em Santa Teresa, a maioria ligada ao parcelamento de terras rurais em sítios, chácaras e lotes.

 

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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