Europa dos Capixabas?

Com clima agradável e colonização italiana, Santa Teresa atrai pessoas de diversos lugares que querem fugir do clima quente

27 de julho de 2022
atualizada em 27 de julho de 2022
Foto ilustração
Foto ilustração

Europa dos capixabas é aqui?

O Secretário geral das nações unidas, Antônio Guterres em evento Diálogo Climático de Petersberg assim disse:

"Ação coletiva ou suicídio coletivo. Está em nossas mãos" (o Estadão - 20/07/2022)

Pois bem, no noticiário dos últimos dias, tivemos incêndios descomunais na Europa e elevado número de pessoas que perderam a vida em decorrência das altas temperaturas, nada de novo ou inesperado, pois estamos sendo alertados há muito das consequências climáticas do aquecimento global.

Mas a Europa está muito distante, assim vou me dedicar a nossa "europa capixaba". Aqui em Santa Teresa no Espírito Santo temos um clima agradável e colonização italiana, e pra cá vêm pessoas fugir do clima, não muito agradável, da grande vitória. Reconheço que é muito desagradável, pois quando vou a Vitória e na volta subo a serra, aos poucos me recomponho com o clima ameno e vegetação de Mata Atlântica, mesmo que muito agredida.

Recebi um casal de amigos, que veio desfrutar do clima e das belezas e peculiaridades do local. E claro me propus a levá-los ao Caravagio - tão falado - e lá fomos.

Eu estivera lá a uns sete anos atrás em visita a um sítio de conhecidos e fomos em uma excursão - por caminhos outros - onde pude constatar a pujança das montanhas e a singularidade da vegetação. 

Me decepcionei com o que vi atualmente, uma área devastada com interferências de um extremo mal gosto. Áreas com - pasmem - enormes extensões de grama, e áreas devastadas. O que chamou atenção dos meus convidados foi poder do alto da rampa de voo livre avistar uma caixa d'água, se destacando na paisagem.

Me lembrei de Brasília, terra de cerrado, onde as pessoas queriam reproduzir plantas oriundas da mata atlântica, na pretenção de terem ali os ares do Rio de Janeiro. Contudo, o clima seco e quente não era propício aos projetos, e por aqui a exuberância é natural, mas insistem em dar prioridades a casas monumentais em detrimentoda e substituição da Mata Atlântica tão cobiçada em regiões áridas.

E em Brasília as ocupações irregulares das pessoas, que lá iam buscar oportunidades, era assustador. O crescimento desordenado das cidades satélites fazia proliferarar caixas d'água, que à época era a Etrnit.

Enfim, aqui em Santa Teresa estou vivenciando o mesmo: ocupações desordenadas. Empresários da área imobiliária estão comprando, como gafanhotos, áreas rurais de produtores exaustos por lutarem sem apoio e sem retorno de seus produtos agrícolas. E estes empresários que compram as terras agricolas, têm feito interferências e supressão imprudentes na vegetação. E pessoas que buscam, não oportunidades de empreender ou ter um local para morar e trabalhar, vêm atrás do clima, mas acabam por interferir ainda mais na vegetação destas áreas.

Bom, a Europa não é aqui, mas ainda temos um local de clima ameno e colonização italiana. Creio que descobrirei locais preservados e com interferência de forma responsável. Enquanto isto, no meu próximo passeio não me permitirei ir ao Caravagio, pois o que percebi na minha última ida lá já me foi bastante para saber que só me decepcionará.

O ministro Luiz Roberto Barroso na APDF 708, onde teve a relatoria foi inconteste: 

Tratados sobre direito ambiental constituem espécie do gênero tratados de direitos humanos e desfrutam, por essa razão, de status supranacional. Assim, não há uma opção juridicamente válida no sentido de simplesmente omitir-se no combate às mudanças climáticas”. 

Bom, como relatei no início deste artigo, está em nossas mãos "ação coletiva, ou suicídio coletivo". Espero, que em Santa Teresa, a população opte e lute por uma ação coletiva para preservar o que esta região tem de único: clima e vegetação de Mata Atlântica. Infelizmente, àqueles que deveriam fiscalizar, não o fazem por oportunismo e covardia, afinal fiscalizar interferências e degradação da natureza, ainda, é tido como retrocesso ao progresso.

Precisamos rever o que queremos do progresso. Ainda há tempo, eu creio. Sou convicto de que é possível coexistir investimentos com preservação e respeito a áreas de APPs, pois estas tem proteção e não se admite nelas interferências dos projetos de ocupação.

imagem de
Pablo Henrique de Melo
Advogado, Contador e Paisagista
PublicidadePublicidade