Aplicativo capixaba ajuda morador a separar lixo reciclável e agendar coleta em domicílio

Parceria de start up com associação de catadores dá pontapé a projeto em município do ES que pode virar referência na coleta seletiva. O Plano é estender a iniciativa para todo o Estado.

22 de junho de 2022
atualizada em 25 de junho de 2022
Catadoras trabalham em usina de triagem em município do interior do Mato Grosso do Sul.Foto:Divulgação/Prefeitura de Três Lagoas/MS
Catadoras trabalham em usina de triagem em município do interior do Mato Grosso do Sul.Foto:Divulgação/Prefeitura de Três Lagoas/MS

Foi lançado na última quarta-feira (21) o aplicativo da Comunidade Mesa Circular desenvolvido pela start up capixaba Reverciclo, empresa dedicada a buscar soluções sustentáveis para a gestão do lixo. Trata-se de ferramenta que permite ao morador agendar o dia e a hora em que o lixo reciclável que ele separou será coletado em sua casa e, de quebra, potencializa cooperativas de catadores desses materiais.

O primeiro município a receber a tecnologia é Ibiraçu, no norte do ES. E a escolha foi fruto da articulação da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Ibiraçu (Ascomçu) com os gestores da Reverciclo, start up incubada no hub da Fucape, esta última instituição de ensino superior localizada em Vitória.

Sócio da Reverciclo, Róbson Lacerda, explica que basta o morador ou dono de estabelecimento comercial/serviço baixar gratuitamente o aplicativo no smartphone e cadastrar o endereço do imóvel. Em seguida a Asmcomçu irá disponibilizar bolsas específicas para vidro, papel, metal e plástico.

Róbson detalha que cada bolsa vem com um QR Code. Este deve ser lido pelo scanner presente no aplicativo, ato que abrirá a opção de agendamento da coleta. Feito isso, membros da Associação irão até o local coletar na hora e data marcados.

Por enquanto o serviço está disponível apenas para os moradores da área urbana de Ibiraçu, município com cerca de 13 mil habitantes. Mas o empresário revela que, após avaliar a experiência deste que é um projeto piloto, pretende oferecer a ferramenta para associações de catadores dos municípios da Grande Vitória dentro de dois ou três meses. E para organizações semelhantes das demais cidades capixabas até o fim do ano. Róbson também tem planos de apresentar a proposta no estado de São Paulo.

Passo a passo para o morador e comerciante participar

Para o morador e proprietário de estabelecimento comercial e/ou de serviços de Ibiraçu participar, basta seguir o passo – a – passo do tutorial publicado aqui. E para aprender a fazer o agendamento, seguir as dicas do vídeo aqui.

Róbson lembra, que por ser uma iniciativa privada, a bolsa com os materiais recicláveis arrecadadas pelo morador não podem ser colocadas na rua, como se faz com a coleta pública.

A bag (bolsa) tem que ser entregue em mãos, pois não é uma coleta pública, é uma relação privada. É fundamental saber usar o aplicativo e não colocar o lixo na calçada”, salienta.

Suporte empresarial para a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis

Róbson acrescenta que a parceria da Revercicla com a Ascomçu vai além. É que no pacote do serviço há ferramentas de gestão.

Oferecemos ferramentas de gestão financeira, operacional, gestão de horas aplicadas e indicadores de processo. Com isso a gente espera que a Associação tenha aumento da produção e da produtividade, elimine atravessadores, alcance maior superávit e dê melhor remuneração ao associado. E que possa também ter acesso aos programas governamentais de financiamento. É um apoio permanente que visa profissionalizar, dar autonomia e sustentabilidade financeira aos catadores, a quem chamamos de agentes de reciclagem”, frisa.

Questionado como a Revercicla ganha com o negócio, Róbson conta que parte do valor arrecadado pela Cooperativa é usado para remunerar a start up.

Quando se trabalha com a intermediação de resíduos, o preço de mercado é 10% (do valor arrecadado pelos catadores). Mas a gente viu as contas da Ascomçu e percebemos que não dá. E se nessa associação que é mais estruturada está assim, imagino que noutras deve ser ainda mais difícil. Então estabelecemos 1,5%, que é o que consegue pagar”, detalha o empresário.

Projeção de aumento expressivo da coleta e número de associados

Junto ao ganho ambiental, com a redução de resíduos sólidos que iriam para aterros sanitários e a economia de energia/ matérias-primas que seriam empregados na fabricação de itens ‘virgens’, a iniciativa pode, também, ter ganho econômico e social locais. É o que prevê a presidente da Ascomçu, Ana Paula Imbert.

Vejo a Associação como uma empresa. Quando soubemos do aplicativo, achamos que era algo inovador. Hoje temos nove associados, sendo seis mulheres e três homens. E conseguimos coletar 20 toneladas de material por mês. Com o aplicativo, devemos saltar para cerca de 35 toneladas/mês coletadas e chegar a mais de 20 associados. Estamos aprendendo a usar o aplicativo. Hoje (ontem, 21) já há 60 residências cadastradas e estamos passando na cidade fazendo a conscientização”, frisa.

Ana Paula contou como a Ascomçu teve conhecimento do projeto.

A gente sempre busca inovação. Já conhecíamos a Yukie Tachibana da Reverciclo. Ela nos apresentou o Róbson, que fez a proposta de sermos o piloto. Abraçamos a ideia, pois já tínhamos um trabalho de conscientização ambiental. Com a chegada dessa tecnologia, a procura dos moradores está muito grande. Eles estão achando bem melhor, porque antes colocavam o material na rua. Agora fica na bag e tem agendamento para a coleta. A gente quer que esse projeto também vá para outros municípios do ES e para o país em geral”, destaca.

Papel do poder público

Embora a iniciativa esteja no âmbito empresarial, há também apoio do poder público, uma vez que o caminhão usado pela Ascomçu – entidade que existe há seis anos - foi cedido pela Prefeitura de Ibiraçu.

O apoio do município ao trabalho da instituição passa pela articulação política do vereador Otávio Maioli (PDT), que destaca a necessidade de avanço na coleta seletiva para cumprir as metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos e ajudar na inclusão social.

 “São degraus que a Ascomçu vem subindo no município. Junto com Reverciclo, está trazendo esse projeto inovador que, no meu entendimento, visa suprir a lacuna da efetivação da coleta seletiva em Ibiraçu. Isso vai garantir que a segregação do lixo feita pelo cidadão resulte na chegada do material para a Associação. Com a triagem feita na origem, evita-se retrabalho, melhora a qualidade do produto e aumenta o ganho dos catadores. Vejo que a grande chave é a conscientização da população para adesão à coleta. Quando essa chave for virada, o papel social e ambiental da Ascomçu será ainda maior”, projeta Maioli.

Apoio das indústrias de reciclagem

O projeto também já tem apoio de indústrias de reciclagem através do Sindiplast (Sindicato das Indústrias de Transformação Plástica do Espírito Santo). Representante da entidade empresarial, Gilmar Nogueira, explica que a apoio à Ascomçu ocorre através de convênio no âmbito do programa Tampinha do Bem.

Nele estimulamos principalmente as crianças a recolherem tampinhas de plástico. Nossos associados compram essas tampinhas, que são transformadas em outros produtos. Compramos as tampinhas da Ascomçu, que fica com o dinheiro. E vamos até a associação buscar o material”, detalha Gilmar.

O representante do Sindiplast diz ainda que há indústrias de reciclagem de plástico que usam as tampinhas em Cariacica, Serra, Vila Velha, São Mateus e Linhares.

As tampinhas são transformadas em mangueiras, caixas para transportar verdura e caixas usadas nos postes de energia, dentre outros produtos”, enumera.

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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