Perigo de Extinção

Nunca tive um passarinho preso e sempre critiquei os que saíam pela rua exibindo, em vistosas gaiolas, os seus canários, curiós, azulões ou o raro trinca-ferro

21 de março de 2021
atualizada em 22 de julho de 2021

Não sou do tipo que se mune de um binóculo e sai pelas capoeiras observando pássaros raros. Gosto de vê-los de forma natural, por mero acaso, quando pousam num galho próximo ou passam num voo rasante. Acho interessante também procurá-los com os olhos ao ouvir-lhes o canto.

Se não saio em busca, alguns vêm me visitar e já tive o prazer de contemplar, em meu quintal, algumas raridades como a pomba-margosa, o sofrê, o cardeal e até jacupembas têm atacado nossas jabuticabeiras.

Por outro lado, com muita tristeza venho notando o sumiço de várias espécies que voaram sobre toda a minha infância. Não vejo mais por essas bandas a tradicionalíssima garrincha, nem o tiziu, nem o sangue-de-boi, nem o tão comum coleirinho e muito menos a triste viuvinha, que é um passarinho miúdo, preto, com a cabeça branca.

A explicação para o desaparecimento dessas aves pode estar diretamente ligada ao uso de agrotóxicos. Ninguém mais cultiva uma lavoura sem usar toneladas de veneno. Falo das aves, mas o fenômeno atinge outras espécies. O número de cobras também decresceu.

Nunca tive um passarinho preso e sempre critiquei os que saíam pela rua exibindo, em vistosas gaiolas, os seus canários, curiós, azulões ou o raro trinca-ferro. Dessas espécies guardo poucas recordações... mas muito me entristece não ver mais, ou ouvir o canto das antigas aves da minha infância: a garrincha, o coleiro, o tiziu, o sangue-de-boi...

Da série Crônicas Patrocínicas.

imagem de
Adilson Patrocínio
Professor aposentado
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