A Vacina, o Chipe e o Medo

Com tanta informação à disposição, por que a preferência de alguns em acreditar nas fake news?

2 de agosto de 2021
atualizada em 5 de agosto de 2021

As redes sociais públicas e os mensageiros criptografados estão inundados por desinformação e fake news sobre a vacinação contra Covid-19. O que levou algumas pessoas ao pânico e a se recusarem, terminantemente, a tomar os imunizantes disponíveis contra a doença. 

As verdadeiras preocupações deveriam ser contra os mercenários que preferem a disseminação da doença para vender medicamentos e movimentos supremacistas que apoiam e difundem a necropolítica para seleção da população humana. 

Entre as fake news mais populares sobre a pandemia, está a teoria do controle de massa. Os maiores medos em tomar a vacina parecem estar na suposição dela conter um nanochipe que seria usado para controlar e rastrear nossas vidas e atitudes.

Recentemente, o ator Juliano Cazarré fez um declaração impactante sobre não tomar vacina: “não quero ser chipado”. Com certeza a questão não é simples, mas por que tal atitude? Simplesmente, medo!

O chipe

Hugo Sant'Ana é especialista em TI e me explicou o porquê é inconcebível a ideia de um chipe ser implantado por meio das vacinas contra a Covid-19. 

É importante, antes de mais nada, fazermos uma distinção: nanorobôs não são a mesma coisa que chipes. Os nanorobôs têm "vida" própria; eles se locomovem, podem "agir" sob controle de alguém (ou de forma programada) e têm um papel ativo dentro do lugar onde foram inseridos. Os chipes não; eles são estáticos, e só servem para transmitir informações de forma ativa ou passiva. Um nanorobô é muito menor do que um chipe e têm mais aplicações.

Nanorobôs fabricados pelo homem são realidade. Eles existem e podem ser injetados. Contudo, sua fabricação e uso ainda possuem custos elevados, por isso são usados para aplicações muito específicas. Além disso, dependem de uma fonte externa para a leitura de dados. Por exemplo, pesquisadores criaram nanorobôs que podem monitorar a temperatura e outros sinais vitais de seres vivos, mas para que estes dados sejam transferidos, ou "lidos", é necessário que exista um aparelho externo próximo ao corpo capaz de se comunicar com o nanorobô (como um aparelho ultrassom).

Além disso, caso não haja um aparelho externo próximo ao ser vivo monitorado, o nanorobô perde toda a funcionalidade. Isso acontece porque o nanorobô depende, também, de um aparelho externo que envie ondas especiais capazes de manter seus capacitores carregados para funcionamento. Sem um aparelho próximo efetuando a recarda do nanorobô continuamente, ele perde a "bateria" e se torna inútil.

Outro fato relevante é que estes pequeninos robôs só podem se comunicar com aparelhos externos em distâncias curtíssimas, já que não podem ter antenas potentes devido ao seu minúsculo tamanho. Então, uma possível realidade onde uma pessoa é injetada com nanorobôs e rastreada no mundo real, ainda é muito distante, especialmente no Brasil.

Como disse, a leitura de dados de nanorobôs (os únicos mecanismos que podem ser injetáveis, atualmente, através de seringas mais comuns) só é possível com aparelhos de ultrassom próximos do ser vivo que o hospeda. Ou seja, caso o ser vivo se distancie alguns poucos metros do ultrassom, toda a comunicação se perde e o nanorobô para de funcionar em pouquíssimo tempo por falta de alimentação (bateria), se tornando completamente inútil.

Ainda existe outra dificuldade que derruba sua utilização em massa, atualmente: os custos elevados. Para se criar um nanorobô com estas características, incluindo o equipamento externo necessário para fazer a leitura e sua alimentação elétrica, são necessários altos investimentos: em tecnologia, matéria prima e máquinas, capazes de fabricá-los. Pouquíssimos laboratórios ao redor do mundo têm acesso a estes requisitos.

Recentemente, a empresa norte-americana Technology Innovations acabou de receber uma patente de uma nova tecnologia de construção de nanorobôs mais eficientes, mas estes ainda estão em desenvolvimento e o preço de fabricação nem foi discutido. 

Já em relação aos chipes, para que seja possível rastrear um único humano com a tecnologia disponível no mercado, são necessários chipes muito grandes, comparativamente aos nanorobôs. Isso porque estes chipes teriam que ter grandes antenas e baterias internas, para que pudessem ser rastreados à distância, tornando-os completamente perceptíveis pela "vítima" sendo "chipada". Eles jamais poderiam ser inseridos via agulhas comuns, como as utilizadas para injetar as vacinas contra Covid-19. As agulhas para injetar este tipo de chipe devem ser especiais, com uma larga abertura capaz de transportar chipes deste tamanho, ainda que sejam os menores chipes do tipo já fabricados.

Um ser humano "chipado" com um chipe capaz de ser rastreado, mesmo com tecnologia NFC (Near Field Communication), que não necessita de bateria, perceberia que isso estaria acontecendo imediatamente, pois veria nitidamente o chipe, devido ao seu tamanho (maior que um grão de arroz, aproximadamente 2x12mm) e pelo método utilizado (uma seringa diferente, com agulha de diâmetro muito maior que das vacinas). Além disso, um chipe via NFC (que não necessita de bateria), só pode conter dados pré-inseridos, não tendo papel ativo na busca por informações.

Por exemplo, um chipe sem bateria pode ter informações que foram inseridas antes de ser injetado na pessoa, como seu nome, CPF, dados bancários, etc., mas não pode ouvir o que você fala, nem saber seus batimentos cardíacos, muito menos sua localização. São chipes "passivos", não "ativos". Para um chipe ser ativo, são necessárias ao menos duas coisas que já mencionei: uma antena grande para envio de informações e uma espécie de bateria para funcionamento "ativo". O que tornaria o chip ainda maior e necessitaria de agulhas maiores ainda.

E mesmo este tipo de chipe maior necessita de cuidados específicos para que mantenha seu funcionamento e possa ser rastreável. Ainda não é algo que pode ser implantado em larga escala, devido aos custos e adaptações tecnológicas necessárias ao redor de todo o mundo para realizar as leituras dos sinais enviados pelo chipe.

Como podemos perceber, o tamanho e os custos envolvidos neste tipo de chipe, no momento, tornariam inviável sua aplicação em massa, ainda mais sem a percepção do paciente, como alguns supõem acontecer com as vacinas anticovid-19.

O medo

O medo é da natureza humana e nos protege ao evitar que corramos risco de morte. É o medo que nos estimula, por exemplo, a cuidarmos de nossa saúde. Mas e se ele for um medo além dos limites razoáveis? É importante identificarmos o tipo de medo que temos: se ele nos protege ou nos paralisa. Se nos faz ter prudência, ou se nos impede de vivermos plenamente.

Sem autoconhecimento e sem entendermos como o medo funciona e nos afeta, não seremos capazes de dominá-lo. Quando o medo nos paralisa e nos impede de racionalizar, estamos diante do pavor. E é neste momento que precisamos de ajuda e de nos conscientizar. É preciso descobrir os gatilhos que nos colocam em estado de pavor para aprendermos a lidar com eles e tentar resolver o que nos impede de agir racionalmente. Medos que nos paralisam podem ser trabalhados! 

Se o teu medo tem origem nas informações de redes sociais e está te impedindo de ser feliz e até mesmo de tomar uma simples vacina para proteger sua vida, você precisa parar tudo, rever seus valores e racionalizar. Você está precisando de ajuda especializada, aprender a abstrair e exercitar mudança de foco. Você precisa se dar a oportunidade de raciocinar por outros ângulos, romper o preconceito.

Faça um exercício! É bem simples! Para começar, você precisa se esvaziar de todas as ideias preconcebidas. Depois, pesquise, estude e contra argumente suas atuais convicções e medos que te paralisam. Avalie os prós e os contra sobre o tema e anote os argumentos mais racionais. Atenção, não se posicione pela simples lógica. A depender da sua lógica, ela pode te induzir ao erro e te enganar. Avalie racionalmente e tome sua decisão pelos fatos e não por seus sentimentos! Sentimentos paralisantes, ou de euforia, são enganosos.

Você sabe qual a diferença entre lógica indutiva e razão discursiva? É preciso conhecer estes conceitos e como funcionam para você se libertar de publicações enganosas e dos medos que elas te provocam.

Lógica indutiva: esta faz amplas generalizações a partir de observações específicas. Mesmo que todas as premissas sejam verdadeiras no raciocínio indutivo, a conclusão pode ser falsa. No caso das publicações sensacionalistas, as conclusões sempre serão falsas. Fique atento! Aprenda a questioná-las e ler as más intenções nos objetivos ocultos. 

Razão Discursiva: ao contrário da intuição (achismo), o raciocínio é o conhecimento que exige provas, demonstrações e se realiza igualmente por meio de provas e demonstrações das verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas.

Nós não precisamos deter conhecimento técnico para conhecer o que é verdade, mas devemos confiar em quem os detém. Podemos ler tudo e, com o mínimo de critério, saber o que é científico, racional, e o que é teoria conspiratória.

A vacina

Após as análises anteriores, se você ou quem você conhece, ainda estiverem com medo de receber a vacina contra Covid-19 por causa do tal chipe, é bom estimular esta pessoa a evocar a razão e lembrar que caso o objetivo da vacinação fosse implantar um microchip de rastreamento, com toda certeza não seria necessária mais de uma única aplicação da vacina. Já que, depois de aplicado, um microchip de rastreamento duraria mais de 100 anos sem necessidade de manutenção. E as pessoas, com certeza, perceberiam o chip dentro da vacina, devido a seu tamanho e ao diâmetro descomunal da agulha.

Depois da ciência desenvolver a primeira vacina, elas sempre foram utilizadas como eficientes imunizantes. Com raríssimos casos de efeitos colaterais, em percentual desprezível, vacinas não deveriam causar medo.

Vacine-se! Seja mais um herói contra este monstro chamado Sars-CoV-2 (coronavírus).

imagem de
Carmem Barcellos
Comendadora Augusto Ruschi, técnica em Meio Ambiente, graduada em Administração com habilitação em Marketing, pós-graduanda em Gestão Pública, bancária, eterna aprendiz e artista por vocação
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